Se o best-seller americano Nicholas Sparks já vendeu alegados 90 milhões de livros (românticos), muito é por causa de Stephen King. Não que “Carrie, a Estranha” seja propriamente inspiração para “Diário de uma paixão”. “Quando tinha 19 anos de idade e escrevi meu primeiro romance, a ideia é que fosse um livro de terror, porque eu realmente gostava do que King fazia. Claro, eu não era bom, de modo algum”, reconhece Sparks em entrevista ao G1. Ele está no Brasil para divulgar seu trabalho mais recente, “Uma longa jornada”, e participar da Bienal do Livro do Rio neste sábado (31), onde fala ao meio-dia no programa Conexão Jovem .
Anos depois de falhar na imitação, resolveu escolher o gênero “histórias de amor”, na tentativa deliberada de obter destaque. Não queria competir com nomes como King ou Anne Rice. “O que você tem de fazer é preencher um nicho”, recomenda ele durante a conversa, ocorrida em um hotel em São Paulo. “É a natureza. Nós podemos fingir que não existe ligação entre negócios e mercado editorial – mas existe.”
O que você tem de fazer se quiser se tornar um best-seller é preencher um nicho. E o melhor jeito de fazer isso é ser original, dar algo que ninguém esteja escrevendo"Outra "ligação" é com Hollywood. "Uma carta de amor", "Noites de tormenta", "Um amor para recordar", "Querido John", "Um homem de sorte", "A última música", "Um porto seguro" e "Noites de tormenta" são títulos de livros do autor que foram adaptados para o cinema. "Uma longa jornada" terá o mesmo destino. Na entrevista, Sparks demora 2 minutos para pronunciar o termo “business”. Parece não ter receio de misturar ambições literárias e ambições comerciais. Ao contrário, fornece dicas para que interessados tentem seguir o caminho. Na hora de recomendar um autor brasileiro, cita Paulo Coelho. Leia, a seguir, os principais trechos:
Nicholas Sparks, escritor
Você diz ler cerca de 125 livros por ano. O que você prefere: ler ou escrever?
Nicholas Sparks – Ler!
Nicholas Sparks – Ler!
Por quê?
Nicholas Sparks – Porque é mais fácil. E mais divertido (risos). [Ler] me deixa relaxado. Escrever é um trabalho. É preciso cativar as pessoas, estejam elas no Brasil ou nos Estados Unidos, sejam elas adolescentes ou idosas... É algo desafiador a se fazer.
Nicholas Sparks – Porque é mais fácil. E mais divertido (risos). [Ler] me deixa relaxado. Escrever é um trabalho. É preciso cativar as pessoas, estejam elas no Brasil ou nos Estados Unidos, sejam elas adolescentes ou idosas... É algo desafiador a se fazer.
Você publicou 18 livros desde 1996. Como arruma tempo para escrever um livro por ano e ler outros 125?
Nicholas Sparks – Geralmente, passo entre cinco e seis horas por dia escrevendo – três ou quatro vezes por semana. Demoro cerca de seis meses para completar um romance. Gasto os outros seis meses para editando e promovendo o livro, pensando no próximo e tratando de todos os outros negócios nos quais estou envolvido: filmes, TV, passar tempo com minha família, minha mulher... No resto do tempo, faço exercícios e leio. É uma vida muito simples.
Nicholas Sparks – Geralmente, passo entre cinco e seis horas por dia escrevendo – três ou quatro vezes por semana. Demoro cerca de seis meses para completar um romance. Gasto os outros seis meses para editando e promovendo o livro, pensando no próximo e tratando de todos os outros negócios nos quais estou envolvido: filmes, TV, passar tempo com minha família, minha mulher... No resto do tempo, faço exercícios e leio. É uma vida muito simples.
No seu site, você diz que começou a escrever histórias de amor porque era um ramo ‘sem competição’. Estava fazendo uma piada ou falava sério?
Nicholas Sparks – Não era piada. O que você tem de fazer se quiser se tornar um best-selleré preencher um nicho. E o melhor jeito de fazer isso é ser original, dar algo que ninguém esteja escrevendo. Por exemplo, se tivesse começado com romances de terror, teria de competir com Stephen King, Dean Koontz, Anne Rice [autora de “Entrevista com o vampiro”], Clive Barker [autor de “Hellraiser”], John Saul... Ninguém me daria chance. Há muita oferta nesse segmento. Então, eu pensei: “Bem, ok, vou escrever neste gênero [histórias e amor]. E, se eu fizer bem, consigo alguns leitores”.
Nicholas Sparks – Não era piada. O que você tem de fazer se quiser se tornar um best-selleré preencher um nicho. E o melhor jeito de fazer isso é ser original, dar algo que ninguém esteja escrevendo. Por exemplo, se tivesse começado com romances de terror, teria de competir com Stephen King, Dean Koontz, Anne Rice [autora de “Entrevista com o vampiro”], Clive Barker [autor de “Hellraiser”], John Saul... Ninguém me daria chance. Há muita oferta nesse segmento. Então, eu pensei: “Bem, ok, vou escrever neste gênero [histórias e amor]. E, se eu fizer bem, consigo alguns leitores”.
Isso, porque a maioria das pessoas não lê cento e tantos livros por ano – a maioria lê dois ou três. Então, como você pode se destacar? Escrevendo num segmento em que não há concorrentes. É a mesma coisa que Dan Brown fez com “O código Da Vinci”: ele ressuscitou o thriller religioso, que era muito popular nos anos 1950, mas depois aqueles autores ficaram velhos, pararam de escrever, veio Dan Brown e... Boom! E é exatamente a mesma coisa que J.K. Rowling fez: não havia realmente competição no segmento de romances de fantasia realmente bem escritos para young adults [adultos jovens], que também podiam ser apreciados por pessoas mais velhas. Ninguém fazia isso desde “O senhor dos anéis”. Então, ela veio e boom! Tinha pouca competição ali – e J.K. Rowling se tornou J.K. Rowling… O mesmo aconteceu quando surgiu Suzanne Collins [autora de “Jogos Vorazes”]. A J.K. Rowling não estava mais escrevendo, havia um espaço ali. É a natureza. Nós podemos fingir que não existe ligação entre negócios e mercado editorial – mas existe.
Qual foi o primeiro livro você leu e depois pensou ‘Acho que posso fazer isso também, escrever minhas histórias’?
Nicholas Sparks – Não sei se tem um livro específico. Mas, na época em que eu estava no ensino médio, lia muito Stephen King. Então, quando tinha 19 anos de idade e escrevi meu primeiro romance, a ideia é que fosse um livro de terror, porque eu realmente gostava do que Stephen King fazia. Claro, eu não era bom, de modo algum – ao contrário dele... Mas eu era jovem, e algum tempo depois, quando tinha 22 anos de idade, li uma série de livros considerados “clássicos modernos da literatura americana”, [obras] dos anos 1950, como “O apanhador no campo de centeio”; “Catcher-22”, de [Joseph] Heller; “Matadouro 5”, do Kurt Vonegutt; “Lolita”, do Nabokov... Esses livros eram tão fortes – as vozes dos personagens –, que eles realmente me fizeram crer que eu poderia voltar a escrever. Então, foi o que fiz: escrevi um romance. Mas nem esse nem o anterior foram publicados, jamais.
Nicholas Sparks – Não sei se tem um livro específico. Mas, na época em que eu estava no ensino médio, lia muito Stephen King. Então, quando tinha 19 anos de idade e escrevi meu primeiro romance, a ideia é que fosse um livro de terror, porque eu realmente gostava do que Stephen King fazia. Claro, eu não era bom, de modo algum – ao contrário dele... Mas eu era jovem, e algum tempo depois, quando tinha 22 anos de idade, li uma série de livros considerados “clássicos modernos da literatura americana”, [obras] dos anos 1950, como “O apanhador no campo de centeio”; “Catcher-22”, de [Joseph] Heller; “Matadouro 5”, do Kurt Vonegutt; “Lolita”, do Nabokov... Esses livros eram tão fortes – as vozes dos personagens –, que eles realmente me fizeram crer que eu poderia voltar a escrever. Então, foi o que fiz: escrevi um romance. Mas nem esse nem o anterior foram publicados, jamais.
Acho que provavelmente, se tem um destinado a se tornar um clássico, é “Diário de uma paixão”. Porque ele passa na TV a cabo do mundo inteiro e o tempo inteiro"
Nicholas Sparks, escritor
Também no seu site, você recomenda a fãs livros de outros autores. Se tivesse de escolher um brasileiro, quem seria?
Nicholas Sparks – Para americanos? Paulo Coelho [pronuncia algo como ‘Paulo Coelo’]. Ele é um escritor com o qual alguns americanos estão familiarizados. O problema é que muitos dos autores brasileiros não são traduzidos para o inglês.
Nicholas Sparks – Para americanos? Paulo Coelho [pronuncia algo como ‘Paulo Coelo’]. Ele é um escritor com o qual alguns americanos estão familiarizados. O problema é que muitos dos autores brasileiros não são traduzidos para o inglês.
Você continuaria escrevendo mesmo se não tivesse se tornado best-seller?
Nicholas Sparks – Eu não sei. Eu teria me aposentado (risos).
Nicholas Sparks – Eu não sei. Eu teria me aposentado (risos).
Sério: o que você faria se não fosse escritor?
Nicholas Sparks – Poderia ser produtor de filmes – e eu já faço isso. Poderia trabalhar na Broadway – o que estou fazendo. Poderia me envolver mais com a TV do que já estou envolvido. Ou me dedicar mais à caridade. Poderia passar mais tempo fazendo tudo isso, ou passar mais tempo com a família.
Nicholas Sparks – Poderia ser produtor de filmes – e eu já faço isso. Poderia trabalhar na Broadway – o que estou fazendo. Poderia me envolver mais com a TV do que já estou envolvido. Ou me dedicar mais à caridade. Poderia passar mais tempo fazendo tudo isso, ou passar mais tempo com a família.
Sei que você se recusa a escolher um filme favorito dentre os baseados nos seus livros. Algum deles se destaca?
Nicholas Sparks – Acho que provavelmente, se tem um destinado a se tornar um clássico, é “Diário de uma paixão”. Porque ele passa na TV a cabo do mundo inteiro e o tempo inteiro. Elas exibem sempre esse filme.
Nicholas Sparks – Acho que provavelmente, se tem um destinado a se tornar um clássico, é “Diário de uma paixão”. Porque ele passa na TV a cabo do mundo inteiro e o tempo inteiro. Elas exibem sempre esse filme.
Existe uma fórmula ou método ‘Nicholas Sparks’?
Nicholas Sparks – Não. Há certos elementos que tendem a se repetir – coisa pequena. Mas não é uma fórmula.
Nicholas Sparks – Não. Há certos elementos que tendem a se repetir – coisa pequena. Mas não é uma fórmula.
Acredita que seu estilo de escrever mudou com os anos?
Nicholas Sparks – Ah [passa alguns segundos pensando]... Talvez um pouco. Quando releio “O diário de uma paixão”, ainda acho que há partes que são incrivelmente fortes na voz narrativa e no poder de comoção. Ainda tento manter esse efeito. Ao mesmo tempo, acho que melhorei em outras áreas.
Nicholas Sparks – Ah [passa alguns segundos pensando]... Talvez um pouco. Quando releio “O diário de uma paixão”, ainda acho que há partes que são incrivelmente fortes na voz narrativa e no poder de comoção. Ainda tento manter esse efeito. Ao mesmo tempo, acho que melhorei em outras áreas.
Quais, por exemplo?
Nicholas Sparks – Ah, a habilidade para misturar histórias de amor e suspense [thriller]. É algo que eu não sabia como fazer na época de “Diário de uma paixão”, e que depois acabei fazendo duas vezes, em “O guardião” [publicado em 2003] e em “Um porto seguro” [2010].
Nicholas Sparks – Ah, a habilidade para misturar histórias de amor e suspense [thriller]. É algo que eu não sabia como fazer na época de “Diário de uma paixão”, e que depois acabei fazendo duas vezes, em “O guardião” [publicado em 2003] e em “Um porto seguro” [2010].
Quando lista as razões para o sucesso de ‘Diário de uma paixão’, a primeira que você menciona é: ‘O enorme apoio de minha editora’. Acha que, hoje em dia, com possibilidade de autopublicação, o suporte da editora segue tão necessário?
Nicholas Sparks – Sim, claro! De que outro jeito você iria conseguir divulgar seu romance? Há três elementos importantes, se você quer seguir esta carreira. A escrita do romance é a primeira parte; encontrar um agente e uma editora para publicar é a segunda parte; mas a terceira parte é a mais desafiadora: fazer com que as pessoas leiam. Muitas pessoas acham que, uma vez que o livro foi escrito, terminou a parte mais difícil. Mas não! Se você entra numa livraria e vê todas aquelas obras, de todos aqueles escritores – como as pessoas vão notar justamente o seu livro? No meu caso, tenho muita sorte de ter apoio de minha editora desde muito cedo em minha carreira. Na minha primeira turnê, passei por 50 cidades, e isso me ajudou a divulgar meu romance e me tornar conhecido, entrar na lista de best-sellers, ficar disponível em todo o país. As pessoas passaram a ler, uma coisa alimentou a outra e.. Aqui estou eu!
Nicholas Sparks – Sim, claro! De que outro jeito você iria conseguir divulgar seu romance? Há três elementos importantes, se você quer seguir esta carreira. A escrita do romance é a primeira parte; encontrar um agente e uma editora para publicar é a segunda parte; mas a terceira parte é a mais desafiadora: fazer com que as pessoas leiam. Muitas pessoas acham que, uma vez que o livro foi escrito, terminou a parte mais difícil. Mas não! Se você entra numa livraria e vê todas aquelas obras, de todos aqueles escritores – como as pessoas vão notar justamente o seu livro? No meu caso, tenho muita sorte de ter apoio de minha editora desde muito cedo em minha carreira. Na minha primeira turnê, passei por 50 cidades, e isso me ajudou a divulgar meu romance e me tornar conhecido, entrar na lista de best-sellers, ficar disponível em todo o país. As pessoas passaram a ler, uma coisa alimentou a outra e.. Aqui estou eu!
‘Uma longa jornada’ é descrito como ‘um livro na tradição de Diário de uma paixão’. Que tradição é essa, afinal?
Nicholas Sparks – É uma história de amor que soa épica – que se passa ao longo de muito tempo. A narrativa de Noah e Allie [de “Diário de uma paixão”] começa antes da Segunda Guerra Mundial, nos anos 1930, e dura até o final da vida deles. É o mesmo que acontece com Ira e Ruth [um dos dois casais de ‘Uma longa jornada’]. É épico.
Nicholas Sparks – É uma história de amor que soa épica – que se passa ao longo de muito tempo. A narrativa de Noah e Allie [de “Diário de uma paixão”] começa antes da Segunda Guerra Mundial, nos anos 1930, e dura até o final da vida deles. É o mesmo que acontece com Ira e Ruth [um dos dois casais de ‘Uma longa jornada’]. É épico.
Já cogitou escrever sobre outras coisas que não romance ou histórias de amor? Nicholas Sparks – Meus livros não são necessariamente romances românticos. Certamente, há elementos românticos. Mas, ao tirando isso, as histórias de amor, tem tragédia, raiva, traição... Então, por lidar com sentimentos humanos, tenho permissão para incluir elementos de outros gêneros: suspense, aventura, mistério, sobrenatural – tenho feito isso em meus romances, e isso é incrível.
Você admira o Stephen King porque acha que ele continuará sendo lido daqui a 100 anos. E quanto aos seus próprios livros?
Nicholas Sparks – Eles poderiam... Vamos ver o que o tempo dirá. Tudo que sei é que Stephen King será lido. Dizer que ele não será lido é a mesma coisa que dizer que ninguém estará lendo livros de terror. E é claro que vamos ter obras de terror – é uma das coisas mais incríveis da literatura, do cinema. Como você poderá fazer um estudo sobre literatura de terror e não mencionar Stephen King, o “Frankstein” da Mary Shelley, o “Drácula” de Bram Stoker, Edgar Allan Poe? Quanto a mim, não tenho ideia, vamos ver o que o futuro nos reserva.
Nicholas Sparks – Eles poderiam... Vamos ver o que o tempo dirá. Tudo que sei é que Stephen King será lido. Dizer que ele não será lido é a mesma coisa que dizer que ninguém estará lendo livros de terror. E é claro que vamos ter obras de terror – é uma das coisas mais incríveis da literatura, do cinema. Como você poderá fazer um estudo sobre literatura de terror e não mencionar Stephen King, o “Frankstein” da Mary Shelley, o “Drácula” de Bram Stoker, Edgar Allan Poe? Quanto a mim, não tenho ideia, vamos ver o que o futuro nos reserva.
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