O irreverente mordomo Crodoaldo Valério da novela “Fina Estampa” (2011) vai ganhar uma versão cinematográfica, o filme “Crô”. O anúncio do começo das filmagens, estreladas por Marcelo Serrado (“Malu de Bicicleta”), aconteceu nesta segunda-feira (6/5) em uma entrevista coletiva, realizada em um hotel de São Paulo. “Depois de um ano e meio, foi uma surpresa quando soube do projeto. Mas o Crô caiu no gosto do público, as pessoas pediam por esse filme e revivê-lo será bem engraçado”, comentou Serrado.
O filme será dirigido por Bruno Barreto (“Voando Alto”) e contará com roteiro de Aguinaldo Silva, que foi autor da novela. E, segundo Barreto, não surgiu para entrar na onda de comédias brasileiras de sucesso. “Não é a primeira comédia que faço”, lembrou o diretor, citando trabalhos como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) e “O Casamento de Romeu e Julieta” (2005). “Este filme nasce de um grande prazer que tenho de fazer comédia”, completou.
Barreto misturou referências ao dizer que pretende fazer “uma comédia diferente”, citando “a pegada” dos irmãos Coen, “um pouco” de Tim Burton, mas também os nomes de sempre quando o assunto é comédia, como “a coisa da chanchada brasileira”, Oscarito e Grande Otelo, além de Jerry Lewis, preferência compartilhada com Agnaldo Silva, segundo o cineasta. Ou seja, o público pode relaxar que ninguém vai reinventar o humor de “Crô”.
“Tem viado em tudo que é novela, mas o Crô deu certo porque tinha alma, era de verdade”, acredita Serrado, meio politicamente incorreto, meio criticando sem querer a Globo. “Nem eu nem o Aguinaldo imaginávamos que ele teria essa vida. O Crô agradou às crianças porque tinha um quê de desenho animado, foi tema de escola de samba, vai virar livro, boneco, fico até assustado”.
O filme não será uma continuação da novela, já que vários personagens estarão ausentes e novos serão introduzidos. A principal novidade será a participação da cantora Ivete Sangalo, que interpretará a mãe “jocasta” e dominadora do personagem. “Queria uma mãe dominadora e diva, algo que tem muito a ver com a Ivete. E também ela tem uma certa semelhança com a personagem de Christiane Torloni”, contou Serrado, referindo-se à intérprete de sua patroa rica na novela.
Além de Ivete, o filme contará com Gaby Amarantos, Carolina Ferraz e a apresentadora Ana Maria Braga. “Percebi com elas que todas as divas têm o seu Crô. Não sabia disso e achei engraçado”, brincou o ator. “Mas a Ivete é incrível, superdisponível, quer fazer muito bem esse filme. É bacana, porque ela queria fazer uma personagem que fosse bem diferente dela”, comentou o ator sem esconder a felicidade de voltar a atuar com sua ex-colega de elenco de “Gabriela” (2012). Entre os homens, Milhem Cortaz (“Tropa de Elite”) é o destaque, ao lado de Alexandre Nero, intérprete do motorista Baltazar, que foi mantido na história.
Apesar de ausente, Cristiane Torloni teve uma pequena participação na produção. “Ela aparece em um porta-retrato”, contou Barreto. “Então, liguei para ela escolher entre qual usaríamos no filme”. Esta será uma das poucas referências à “Fina Estampa” na produção, já que o personagem herda uma fortuna de sua falecida ex-patroa e tenta mudar de vida sem sucesso. “É um filme feito para quem não viu a novela”, afirma o diretor.
Na trama, cansado de ser milionário e não fazer nada, Crô tenta ser cantor, estilista e cabeleireiro, mas fracassa em todas as aspirações. A partir daí, Crô enfrenta uma crise de depressão, tem pesadelos com a própria mãe e então conclui que seu destino é servir, ser submisso, e opta voltar para a antiga ocupação, mordomo.
O projeto, Barreto revelou, surgiu num jantar com Marcelo Cerrado para tratar de outro filme, a cinebiografia do maestro João Carlos Martins, que o ator vai interpretar em 2014. “Ele comentou que poderia haver um seriado sobre o Crô, aí sugeri um filme e ele ligou para o Aguinaldo Silva”. O resultado é o segundo filme inspirado em personagens de novelas de Aguinaldo Silva, após “Giovanni Improtta” (da novela “Senhora do Destino”), que estreia em 17 de maio.
Serrado comentou que se surpreende com o sucesso que Crô têm entre as crianças. “É uma coisa incrível. Passou de qualquer tipo de preconceito. Ele tinha um pouco de Bart Simpson, de Johnny Bravo, de desenho animado”, citou.
De olho na censura livre, Barreto faz questão de minimizar a sexualidade do personagem, frisando que o tema central do filme será poder e submissão. “Acho que está claríssima a sexualidade dele, que é homossexual. Não tem beijo gay, nenhuma cena de sexo, mas está claro que ele transa com o namorado. Não é necessário, não faz parte da história”, explicou Barreto, que este ano também lançará o drama “Você Nunca Disse Eu Te Amo”, bem mais explícito, sobre o romance lésbico entre a poeta Elizabeth Bishop (Miranda Otto, de “Guerra dos Mundos”) e a urbanista brasileira Lota Soares (Glória Pires, de “É Proibido Fumar”). O fato rendeu uma piada do diretor: “Vou ser o cineasta gay do ano”.
As filmagens começam nesta terça (7/5) e vão até 8 de junho em São Paulo, embora a novela se passasse na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. “Sugeri São Paulo, que é a expressão máxima do novo riquismo brasileiro”, explicou o diretor. A previsão é que a estreia aconteça já em novembro, no ritmo alucinado que carateriza as produções cômicas da Globo Filmes.
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